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A falta de acesso à saúde é uma violência contra a mulher


Entre o início da pandemia e o primeiro dia útil de março deste ano, 378.999 mulheres foram contaminadas pelo coronavírus no Distrito Federal, o que equivale a 55,4% do total dos casos de infecção. Dos óbitos ocorridos em decorrência da covid-19, 42,9% foram de mulheres. Um triste número de 4.911 vidas perdidas.


Tão grave quanto esse cenário de mortes por covid-19, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) informou recentemente que a falta de acesso à atenção oportuna e interrupções nos serviços de pré-natal têm sido responsáveis pelo aumento da mortalidade materna nas Américas durante a pandemia. Segundo o organismo, uma em cada três mulheres grávidas não tiveram acesso a cuidados intensivos em tempo oportuno. 365 mil gestantes foram infectadas e o número de óbitos ultrapassou 3 mil.


Infelizmente, a falta de acesso a serviços de saúde não tem sido problema apenas no período da pandemia, quando ele se agravou. Em 2019, 583.896 mulheres morreram no Brasil. As causas mais frequentes foram doenças do aparelho circulatório, neoplasias (câncer), doenças do aparelho respiratório, doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas. Nesse ano houve um aumento na ocorrência de doenças dos aparelhos genital e urinário – o que demonstra deficiência específica na atenção à saúde da mulher.


No Distrito Federal a situação não é diferente. O GDF festejou, em outubro de 2020, a inauguração do Centro Especializado de Saúde da Mulher (Cesmu), reaproveitando a estrutura do antigo centro de saúde da 514 Sul. “Uma policlínica exclusiva para atendimento à mulher”, foi o anúncio.


O problema com essa criação de unidades para atendimento específico não é mais do que o indicativo de que a mulher provavelmente não vai encontrar o atendimento de que precisa no hospital mais próximo de casa. Nas unidades básicas de saúde, os recursos são ainda mais escassos e não há ginecologistas.


Com esse tipo de atendimento não especializado e a insuficiência de médicos na Secretaria de Estado de Saúde, os diagnósticos dos casos mais complexos só virão em estágios mais avançados. Isso implica em aumento de riscos para as pacientes, maior tempo e custo mais elevado nos tratamentos.


O governo festejou 3 mil atendimentos nos primeiros seis meses do Cesmu. No entanto, as mulheres representam mais de 52% da população do DF, que ultrapassa 3 milhões de habitantes. E 64% dessas pessoas dependem exclusivamente do SUS para assistência à saúde.


A própria questão da violência contra a mulher, que hoje tem tanta projeção nos meios de comunicação, tem impacto direto na saúde da vítima e nos serviços de assistência à saúde da mulher, os quais não estão recebendo a devida atenção do GDF. A violência está associada ao aumento do risco de lesões, depressão, transtornos de ansiedade, gravidez não planejada, infecções sexualmente transmissíveis, incluindo HIV, e muitos outros problemas de saúde.


Neste mês de março, no qual celebramos o Dia Internacional da Mulher, é indispensável enfatizarmos a necessidade de reestruturar e ampliar a rede de assistência à saúde da mulher, não só para os casos em que a questão está vinculada à violência contra ela. A própria falta de acesso à assistência pública em saúde é, por si só, uma forma de violência, em especial contra aquelas em situação socioeconômica mais desfavorável. A ampliação do acesso, a partir das unidades básicas de saúde, é uma necessidade urgente.

Texto: Dr. Gutemberg Fialho

Dr. Gutemberg, médico ginecologista

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André Angelo

Gestor público, servidor na Secretaria de Estado Saúde do DF, líder comunitário.

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